domingo, 25 de janeiro de 2009

RELEASE - "Del '63" (1984)


O álbum “Del 63” é o primeiro solo de Fito Páez. Com certeza um belo fruto dos anos anteriores que revelaram o jovem rosarino como um grande tecladista e compositor. Fito realmente aproveitou a oportunidade que lhe bateu a porta. Em 1981, o músico argentino Juan Carlos Baglietto lhe chamou para fazer parte de sua banda, após começar a ser respeitado por músicos de Rosário na época de sua primeira banda, Staff. Na banda de Baglietto, Fito não era apenas um tecladista, mas também compunha muitas das músicas das quais interpretava o líder da banda. Assim, Fito tornou-se conhecido no cenário nacional, que lhe rendeu um convite, em 1983, de integrar-se a banda do rock star argentino, Charly García, seu ídolo desde infância. Logo, o ano seguinte trar-lhe-ia bons frutos. Em 1984, Fito Páez lança seu primeiro disco em carreira solo.


O disco foi gravado nos estúdios Panda de Miguel Krochikc, sendo Mario Breuer técnico de gravação e Nano Suárez de edição. Na capa do álbum, Fito aparece em pé dentro de um banheiro, com uma camiseta que remete à bandeira japonesa, e um cabelo comprido que lhe caracterizaria até metade dos anos 90; uma pia ao lado esquerdo e um teclado – ao invés do clichê da guitarra, já que o instrumento principal de Fito é o teclado. O escrito do título aparenta ser a de um placar eletrônico. Na parte artística do álbum estão os nomes de Andy Cherniavsky, fotógrafa da capa; Rodolfo Ochambela, como designer gráfico; e Jorge C. Portunato na direção artística.


Para o seu primeiro projeto solo, acompanharam o seu amigo já de adolescência Fabián Gallardo, nas guitarras, teclados e backing vocal; o renomado César Franov no baixo e nos teclados; e Tuerto Wirzt, baterista que faleceu no início de 2008 e que acompanhou Fito em seus três discos seguintes.


O disco começa com a canção homônima do álbum, “Del sesenta y tres”. A música já se inicia com teclados, logo, Fito começa a cantar sobre seus então vinte anos de vida, contando quando começou a fumar e esteve com uma mulher pela primeira vez, mesclando com fatos históricos, como os assassinatos de Kennedy e John Lennon, o homem na Lua, a Guerra do Vietnã e o golpe militar de 1976 na Argentina. Com o passar da canção, a música aumenta de volume e tonalidade, terminando com uma frase interessante – “Chamemos a todos os homens, que o banquete está pronto”, e com a guitarra de Carlos García López, que faz participação especial na música.


A segunda canção, “Tres agujas” segue um estilo de jazz e bossa nova, só que num ritmo um mais pouco mais ligeiro. Além da musicalidade, a canção possui uma bela poesia, escrita pelo próprio Fito Páez, assim como também em todas outras canções do álbum: “os barcos viajam de país em país/ a lua nem sempre é a mesma/ (...)/ É meu coração que decide entre o mar e a areia/ (...)/ Quase são as 3, três agulhas tenho na cabeça.”, “Creio que nunca é tarde/ Uma válvula de escape/ se transforma em um acorde/ Não, é que eu não quero mais nadar em piscinas”. Para terminar, a bateria eletrônica - comum no disco e também nos anos 80 – dá um toque especial para a música.


A terceira música, “Viejo mundo”, tem a participação de Rubén Goldín - seu ex-colega na banda de Baglietto - dividindo os vocais. Ela é quase toda cantada de uma forma rápida, mesmo a música sendo mais calma. A letra é também uma poesia, como nas canções anteriores, sendo essa até com um tom social de leve: “O leite é branco. A carne é vermelha. A fome é preta, e preta sua ferradura”; “Uma escopeta cospe balas de cocaína”.


A canção seguinte é “La rumba del piano”, como já diz pelo próprio nome, tem um ritmo baseado na rumba, e é uma homenagem ao instrumento principal de Fito. Claro, a música tem bastante uso de pianos e teclados. Na letra, é como se Fito estivesse conversando com o piano: “irmão de solidão, aqui estamos nós dois/ Sob esta lua de rubi, entre essa gente nova”; “Tuas quatro patas pedem festa, então há que dá-la”; “Só te peço um pouco de ar para respirar”.


“Cuervos en casa” é a quinta canção, e já trás um tom mais político. A música possui um tom mais tenso, com uma voz baixa e berros esporádicos de “cuervos!”. Na letra, uma certa crítica à Igreja Católica: “Há na Itália uma capital, e ditam o comportamento”; “Há um rumor na catedral. Estão pintando as paredes”. E claro, seguindo no tom político, uma crítica à política local, de um país que recém havia saído de uma ditadura: “Hoje matarão o presidente”; “Estou sangrando na Casa Rosada”; “Corvos na Casa Rosada”; “Cria corvos a Casa Rosada”. A música ainda contém a participação de Daniel Melingo no saxofone.


A sexta canção, “Sable chino” começa com um suave tocar de piano. É essa suavidade que caracteriza quase toda a música, com exceção de um verso: “Já não me importa quem sou, se um ‘mal-parido’, esquizofrênico de hoje, ou um guerrilheiro militante de quê?”. Nesse verso a música se leva a um tom mais forte, como se fosse um refrão. Mas na verdade a canção não possui refrão nenhum, e posteriormente volta ao seu tom suave, terminando com um solo de saxofone, tocado por Oscar Feldman.


Em seguida há “Rojo como corazón”, que é a única canção do disco que não foi composta por Fito, e sim pelo seu guitarrista Fabián Gallardo, que acaba também por dividir os vocais também na faixa. A princípio a música é calma, cantada também de uma forma calma. Após o primeiro minuto, a música acelera. Depois ela volta a ficar calmo no verso “Quero ser branco no xadrez/ quero ser vermelho como um coração/ quero apagar as luzes com silêncio/ Por isso canto, por isso vivo/ Porque posso ver a lua em cada canção/ Por isso canto por vocês/ porque estamos frente a frente/ Porque em cada melodia pulsa um coração”, acelerando com os coros de simples “la la la la”. Nessa parte a canção até lembra algumas músicas de Ivan Lins no final da década de 70. Por fim, a canção vai diminuindo o volume, terminando assim.


A penúltima canção é sobre simplesmente uma canção. “Canción sobre canción” é uma das músicas mais conhecidas de Fito Páez, com participação de Rubén Goldín nos vocais. Ela é uma “metacanção”, que vai contando sobre várias questões musicais: “Toco a manhã, carrego o ar, marco 4 como naquela canção. Vou cantar um pouco, vou tecer silhueta, como o degradé”, e depois fala de forma mais sentimental, mas sem sair do tema da canção: “Canção que conta como nasce/ Canção de amor que te lembra/ Canção sobre canção, como raios de sol”. A música é suave, com exceção da bateria eletrônica que faz que haja uma batida mais forte, mas mantendo-se num tom suave por toda a faixa.


O álbum não se caracteriza por músicas ligeiras ou de puro “rocanrol”, mas a última canção “Un rosarino en Budapest” é sem dúvidas a mais agitada do disco. O título não explica muito a canção. Na letra, Fito diz que irá por todas partes transformando-se várias coisas, como “pato, cama, preto, branco (...) ou um pobre índio de colônia” ou até “um rosarino em Budapeste”. A música utiliza bastante dos teclados e em um momento Fito mostra uma de suas características que o acompanhariam por toda carreira, o seus gritos. Na canção, ela viria em “uma revolução!”. A canção e o álbum terminam com vários “cantarei” e outros versos, e posteriormente com uma parte instrumental, enquanto vai-se abaixando o volume. Após 35 minutos, termina o “Del 63”, o primeiro disco de Fito Páez.



“DEL 63” (1984) - LISTA DE MÚSICAS:

1- Del sesenta y tres (Fito Páez) – 4’33”
2- Tres agujas (Fito Páez) – 4’26”
3- Viejo mundo (Fito Páez) – 4’32”
4- La rumba del piano (Fito Páez) – 4’30”
5- Cuervos en casa (Fito Páez) – 2’55”
6- Sable chino (Fito Páez) – 2’51”
7- Rojo como un corazón (Fabián Gallardo) – 3’50”
8- Canción sobre canción (Fito Páez) – 3’49”
9- Un rosarino en Budapest (Fito Páez) – 4’30”

6 comentários:

  1. Quando lancei o blog e convidei Guille Guttler(agora sem trema), para fazer parte do mesmo eu nao tava enganado. belissimo post... parabens companheiro(nao no sentido petista da palavra)

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  2. Parabéns Guille!!! Bem informativo este artigo, um verdadeiro trabalho de "Indiana Jones" buscar informações de um álbum tão antigo, fora a dedicação em comentar faixa por faixa. Fantástico, aguardamos pelos próximos álbuns!!!

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  3. Guris, o blog está ótimo!!! Os fitomaníacos de plantão agradecem! Bjs para todos!
    Cibele

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  4. Minhas visitas tao se tornando frequentes por aqui, o RELEASE realmente ficou muito bom, ja estou ansiosa pelo proximo. E sobre o blog, no geral ta muito bem organizado, as fotos da decada de 80, as musicas no rodapé do primeiro cd, e o mais interessante, tudo combinando com o post. Parabens mesmo.

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  5. Ótimo!!!
    Parabén Guille, seu texto está muito bom!Adorei!

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